Somente as Escrituras”
30 de outubro de 2019
Será que na relação intratrinitária teríamos exemplos para uma boa convivência entre os homens?
30 de outubro de 2019
“Uma Igreja em boa ordem cultua com ordem e decência” (1ª Coríntios 14.40) (Parte 2)

“UMA IGREJA EM BOA ORDEM CULTUA COM ORDEM E DESCÊNCIA” (Parte 2)

(1ª Coríntios 14.40)

No último número do nosso jornal começamos a considerar sobre o fato de que Uma Igreja em Boa Ordem Cultua com Ordem e Decência. Prosseguiremos agora falando a respeito das partes do culto.

  1. Quais as Partes que Compõe o Culto

Uma das dificuldades do culto hoje é que não temos no Novo Testamento prescrições claras sobre como deve ser o culto. No Antigo Testamento temos estas prescrições, porém, ainda que muitas ainda sirvam como princípios já não servem como prática, pois tinham como propósito apontar para a vinda de Cristo, o que já aconteceu.

Ainda que o Novo Testamento não traga prescrições claras traz os elementos que devem fazer parte do culto, elementos estes que são aquelas atividades determinadas pelas Escrituras nas quais o povo de Deus reunido se engaja com o propósito de adorá-lo (SI 96.9; 99.9), render-lhe graças e louvor (SI 100.4; 30.4; 33.2), dar a conhecer as suas petições (Is 56.7; Fp 4.6), edificar-se internamente (Rm 14.19; ICo 14.3; Ef4.l6), e anunciar o evangelho ao mundo (ICo 14.24-25).

Na determinação do culto e dos elementos que o compõem, devemos recorrer às Escrituras Sagradas, nossa única regra de fé e prática, lembrando sempre que a essência do culto no Antigo e no Novo Testamento é a mesma.

Todos os princípios e elementos do culto público mencionados no Antigo Testamento e que são confirmados no culto público revelado no Novo Testamento, quer por preceito, exemplo, ou inferência legítima, podem e devem ser utilizados para o serviço a Deus (Hb 9.1-22; Cl 2.16-17).

Nem todas as atividades realizadas pelos seres humanos são próprias, adequadas ou eficazes para estes fins elevados. Embora muitas dessas atividades não sejam intrinsecamente erradas em si mesmas, elas não cabem no culto prescrito por Deus. Por este motivo, o próprio Deus nos revelou em sua Palavra quais os elementos apropriados para o seu culto, que são assim definidos por nossos símbolos de fé:

  • orações
  • leitura da Palavra de Deus
  • pregação da Palavra de Deus
  • cantar salmos, hinos e cânticos espirituais ou sagrados
  • celebração da Ceia (quando houver)
  • ministração do batismo (quando houver)
  • juramentos religiosos
  • votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais
  • 1

1.1 A Oração no Culto Público

Orar deveria ser algo simples, porém a o misticismo presente no ser humano associado à falta de conhecimento bíblico torna necessária a apresentação de esclarecimentos a respeito da oração. Orar a Deus é apresentar, pelos méritos de Cristo, nossas súplicas e interseções, nossa confissão de pecados e nosso louvor e ação de graças.

No culto a oração é instrumento importante em cada uma de suas partes. No início do culto a usamos para invocar a presença de Deus tomando assim consciência que estamos diante do Deus todo poderoso, criador dos céus e da terra. Esta oração deve nos levar à reverência. No momento de contrição somos lembrados que as iniquidades fazem separação entre nós e Deus e que, portanto, não é possível adorar a Deus em pecado. Através da oração confessamos nossas faltas e rogamos a Deus o seu perdão. Oramos apresentando a Deus nosso louvor, exaltamos o Seu nome e os Seus grandes feitos e manifestamos nossa gratidão pelo que tem feito por nós. A oração intercessora, muitas vezes negligenciada, tem como objetivo rogar a Deus, pelos enfermos, desempregados, aflitos de modo geral, pela nação e seus governantes, pela igreja, pela obra evangelística e pela vinda de Cristo. Este é um momento importante quando lançamos sobre Deus as nossas ansiedades. Oramos ainda rogando a Deus que fale conosco através da sua Palavra e depois oramos renovando nossos compromissos diante de Deus e rogando poder para aplicar a Palavra que acabamos de receber.

Assim, ao longo de todo o culto falamos com Deus Pai, dirigidos e capacitados pelo Espírito Santo e sendo mediados pelo Filho.

1.2 A Leitura da Palavra de Deus no Culto Público

É inquestionável a importância da Palavra de Deus no culto. Ela é a regra infalível de fé e prática. Só ela pode nos orientar acerca da necessidade de invocação do Senhor e da reverência de nós exigida. Só ela pode nos apontar os pecados e demonstrar a necessidade de arrependimento e súplica de perdão e só ela nos lembra que em Cristo somos perdoados.

Só a Palavra de Deus nos fornece o modo adequado de louvar e agradecer a Deus e só através da Palavra podemos ser alimentados.

A Bíblia ocupa lugar central na adoração pois é a Palavra de Deus viva, eficaz, inerrante e autoritativa. Impossível a adorar a Deus sem a instrução da Sua Palavra.

1.3 A Pregação da Palavra de Deus no Culto Público

Praticamente todos os livros que tratam a respeito de pregação enfatizam que a Igreja de nossos dias sofre com um declínio da pregação. Em muitas igrejas ela vem sendo substituída por muitas outras atividades como testemunhos, discursos, músicas, etc.

Na década de 70 o Dr Martyn Lloyd-Jones dizia que a pregação era a tarefa primordial da Igreja e explicou que enfatizava isso por causa da tendência de desprezar a pregação substituindo-a por outras atividades. Infelizmente de lá para cá a situação não melhorou.

Na década de 90 John Timmerman disse que em muitas igrejas, o sermão é uma ilha diminuindo cada vez mais em um mar turbulento de atividades.

A pregação da Palavra é central e inegociável para uma adoração autêntica. A pregação é uma das marcas da verdadeira igreja.

John Stott disse que pregar é indispensável ao cristianismo. Mas, se pregar é essencial de que tipo de pregação estamos falando? Estamos falando da pregação expositiva.

Há, sem dúvida, uma crise na pregação contemporânea. Muito do que acontece em púlpitos evangélicos hoje não é pregação. Pregar não é dizer coisas interessantes sobre Deus, ou apresentar um discurso religioso ou ainda narrar uma história. Pregar também não é trazer uma mensagem de autoajuda. Em todos os casos citados a força declarativa da Escritura é enfraquecida.

Um dos primeiros passos para resgatarmos a pregação cristã autêntica é definir o que queremos dizer quando usamos o termo pregar. Podemos dizer em linhas gerais que pregar é ler o texto, explicar o texto e aplicar o texto. Creio que uma boa ilustração para pregação é encontrada em Neemias 8.8. Ali diz que Esdras tomou o livro da lei o leu e deu claras explicações de maneira que o povo entendesse.

Explicar é expor o texto, analisá-lo e tornar claro o seu significado. Este é o cerne da pregação expositiva, ou seja, ler a Palavra de Deus e em seguida explicá-la às pessoas de modo que elas entendam. Quais as características da pregação expositiva?

A Pregação Expositiva primeiramente é aquele tipo de pregação cristã que tem como propósito central a apresentação e a aplicação do texto Bíblico, é aquela em que todos os outros interesses são subordinados à tarefa central de apresentar o texto bíblico, aquela em que o texto da Escritura tem o direito de estabelecer tanto o conteúdo quanto a estrutura do sermão, e aquela em que o pregador tem o dever de mostrar com clareza como a Palavra de Deus estabelece a identidade e visão da igreja como povo de Deus.

A pregação expositiva prima pela exatidão exegética. Não haverá um pregador verdadeiro se tudo o que ele disser não estiver fundamentado em exatidão exegética. Pecamos quando pregamos aquilo que imaginamos ser o que a Escritura ensina e não o seu verdadeiro significado.

Não se pode chegar diante da congregação e dizer que Deus disse o que na verdade ele não disse. É preciso fugir da Superstição – Ficar procurando significados ocultos (numerologia, por exemplo); e da Alegoria – Um exemplo de alegoria pode ser visto em um sermão que toma por base Gênesis 24 e diz que Abraão é Deus, Isaque é Cristo e o servo de Abraão é o Espírito Santo. Rebeca é a Igreja e os camelos são as bênçãos espirituais com as quais o Espírito Santo conduz a Igreja até Cristo.

A pregação expositiva deve ter uma estrutura clara. Os ouvintes precisam conseguir acompanhar o que falamos e posteriormente lembrar do que pregamos. Isso só será possível se a estrutura for clara.

Para que uma estrutura seja clara é preciso que ela tenha unidade, ordem e proporção. Unidade significa que todas as partes da mensagem se mantem unidas, ou seja, não são vários pequenos sermões dentro de um; Ordem significa que o sermão é formado de ideias distintas que seguem umas as outras, em uma cadeia lógica que conduz a um clímax; Proporção significa que cada ideia tem o seu devido lugar, as coisas insignificantes não são magnificadas e as importantes não são menosprezadas.

A pregação expositiva precisa ter uma aplicação Penetrante. Stuart Olyott usa a figura de um alfaiate para ilustrar o lugar da aplicação no sermão:

No trabalho de um bom alfaiate não há falhas na textura (exatidão exegética). O material (conteúdo doutrinário) é de alta qualidade. O tecido tem um padrão atraente (estrutura clara). Porém seu trabalho não para aí. A roupa tem que estar na medida do cliente. O material a ser usado no sermão é o mesmo, mas a aplicação leva em consideração as necessidades dos ouvintes.

Uma das características mais distintivas da pregação reformada diz respeito ao seu conteúdo bíblico e cristocêntrico. Em tempos em que a pregação tem como conteúdo promessas de cura e prosperidade, especulação filosófica, etc, é sem dúvida relevante indagar qual deve ser o conteúdo da pregação.

A pregação deve ter um conteúdo bíblico. Os reformadores pregaram a Bíblia, toda a Bíblia e só a Bíblia. Foi o conteúdo bíblico que conferiu autoridade a pregação deles. Para os puritanos pregação verdadeira sempre foi exposição da Bíblia.

Pregação bíblica é pregar a mensagem da Bíblia, a partir da Bíblia e no contexto em que a Bíblia a coloca.

A pregação deve ser cristocêntrica. A pregação reformada é particularmente cristocêntrica. Os reformadores pregavam a Bíblia toda tendo Cristo, sua pessoa, obra e reino como tema central.

Spurgeon certa vez em uma ilustração disse que assim como de cada cidade, vila ou povoado há um caminho para Londres, assim também de cada texto bíblico há um caminho para Cristo.

Van Groningen disse que a Bíblia tem três linhas que a percorrem toda: Reino, Aliança e Mediador. O Reino corresponde ao povo de Deus, a Aliança é o meio através do qual Deus se relaciona com este povo e o Mediador é aquele através de quem a aliança é firmada.

Em todas as passagens bíblicas pelo menos um dos temas está presente de modo que a partir deste se consegue chegar aos demais chegando, portanto, sempre ao mediador que é Cristo.

Estes são os primeiros elementos que precisamos considerar e por certo estão entre os principais no ato de cultuar a Deus: Oração, leitura da Palavra e pregação. No próximo número trataremos a respeito do lugar da música no culto público.

Rev. Welerson Alves Duarte

Referências:

  1. Veja Confissão de Fé de Westminster, XXI. 5. Veja também: Fp 4.6; lTm 2.1; Ef 5.19; SI 100.2; Cl 3.16; 2Co 8.1-9.15; 2Tm 4.2; Lc 4.16; At 15.21; 20.7; Dt 6.13; Ne 10.29; Ec 5.4-5; Jl 2.12; Mt 9.15; ICo 11.23-29; At 20.7)