PASTORAL 1965
28 de junho de 2017
PASTORAL 1971
28 de junho de 2017
PASTORAL 1968

PASTORAL 1968

Rev. Armando Pinto de Oliveira

 

Amados em Cristo.

Reunidos como Sínodo da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil, vossos representantes no exercício da autoridade eclesiástica suprema de nossa amada denominação, julgamos necessário dirigir-vos, ao final dos nossos trabalhos, uma palavra de exortação e advertência.

Estamos vivendo, sem dúvida alguma, os dias que precedem o desencadeamento dos fatos que hão de nos conduzir à vitória final. Sentimo-nos felizes em viver estes dias e presenciar o cumprimento exato de muitas profecias proclamadas pela Palavra de Deus, que nos tem sido fonte inexaurível e bênçãos e guia seguro em nossa jornada. O que, porém, mais nos deve impressionar em meio aos acontecimentos que se precipitam, e ao meditarmos sobre essas profecias, é o perigo a que estamos expostos. O perigo de sermos enganados, iludidos, desviados, pelos falsos mestres que enxameiam o mundo dito cristão da atualidade. “Acautelai-vos, que ninguém vos engane.” – “Vede, não vos enganem” – são as formas com que registram os evangelistas a advertência com que o Senhor Jesus prefaciou o seu maravilhoso sermão profético.

Sejam, pois, as notas predominantes desta pastoral, a alegria com que saudamos o Dia do Senhor que se aproxima e a preocupação em nos comportarmos na altura dessa gloriosa expectativa e da gravidade da hora presente. Alegria e preocupação. Alegria, porque prestes chegará o momento histórico em que todas as dúvidas se hão de esvaecer, todas as hesitações serão vencidas e o Povo de Deus, derrubadas todas as barreiras denominacionais que hoje o dividem, estará reunido triunfantemente em torno do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, a entoar, em uníssono, epinícios à Sua glória. Preocupação, porque o Adversário, num esforço supremo, reúne suas hostes, revigora, suas energias e aprimora seus métodos, atirando-se, decididamente destruidor, contra os remidos do Senhor, no afã incansável de aniquilar toda a atividade da Igreja de Cristo e de encaminhar homens e nações em direção aos seus exércitos infernais. São grandes e tão organizados os seus esforços, tão insinuantes os seus métodos, que, se fora possível “enganaria ele até os escolhidos” (Mt 24.24)

As guerras prosseguem, ceifando vidas por todos os recantos do globo; as sociedades humanas, desde os grupos unitários das famílias até as nações do mundo, passando por todos os grupos sociais, chocam-se umas contra outras, norteadas por motivações materialistas, lançadas às mais sangrentas e impiedosas emulações, em meio a uma incompreensão insanável.

Pela torção de vocábulos, pela criminosa ação persuasiva no subconsciente, pelo engodo da tolerância religiosa, pelo estratagema de palavras-talismã, o marxismo ateísta penetra com suas influências, assoladora e profundamente, de modo expresso ou sub-repticiamente, em todas as classes, intelectuais, como proletárias, ricas como pobres, religiosas como irreligiosas, deturpando ideias, aniquilando princípios tradicionais, promovendo o relativismo, no campo moral como no religioso, favorecendo o interconfessionalismo, debilitando todas as religiões e lançando-as todas a um estado de absoluta confusão.

A Igreja Católica Romana, assim como o Protestantismo de modo geral, permeados por essas forças malignas, não ofereceram resistência a essa avalanche destruidora. A primeira, acrescentando aos seus desvios doutrinários, o abandono de sua tradicional filosofia político-social, passou a cooperar com o marxismo, dando expressão religiosa às suas pretensões. O segundo, abrindo suas portas ao relativismo religioso, com o abandono à obediência rigorosa às Escrituras Sagradas, oferece largos contingentes para a formação de uma pretendida igreja única, embora apóstata. Unem-se essas três forças, o Comunismo, que hoje se propõe a tolerar a religião, a Igreja Romana, que se faz advogada e divulgadora do Socialismo e o Protestantismo heterodoxo, que pleiteia o ecumenismo e a existência pacífica com o marxismo. Unem-se cada vez mais. Unem-se nas idéias, nos métodos e nos objetivos, ainda que por vezes procurem salvar as aparências. E, desse amálgama, que se está formando, surgirá, sem dúvida, e entrará na história, quando soar a hora apocalíptica, a “mulher assentada sobre uma besta cor de escarlata.” (Ap 17).

Pois é em meio a essa efervescência, atingido muitas vezes pelas fagulhas que se desprendem da forja diabólica, que tem de viver, nos dias atuais, o “pequenino rebanho” do Senhor, o “remanescente que será salvo”, o “resto que há de ficar, segundo a eleição da Graça.”

Ante as forças aguerridas do tremendo adversário, a ninguém é lícito, na Igreja de Cristo, permanecer transido de horror, perplexo, omisso ou acocorado à sombra de cômodas situações pessoais e locais. A Igreja de Cristo é uma só, representada pelos mais pequeninos grupos que se situam em todos os recantos do globo. É contra a Igreja, em sua totalidade, que se atiram em fúria as hostes infernais. Não há, sobre a face da terra, um só grupo de crentes fiéis que não esteja sendo alvo das flechas inflamadas do maligno.

A Palavra de Deus apresenta o cristão sob a forma de um soldado em luta contra o adversário, de um guerreiro revestido de armadura inexpugnável. Estamos vivendo o “dia mau” a que se refere o apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios, e importa, pois, hoje de um modo muito especial, que nos revistamos da armadura e enfrentemos decididamente o adversário. (Ef 6). Enfrentemo-lo no seio de nossas igrejas locais cerrando fileira com os soldados do Senhor em nossa pátria e em todo o mundo. Integremo-nos mais e mais no exército de Cristo constituído acima das divergências denominacionais, estreme de preconceitos de qualquer natureza.

Sentimo-nos particularmente honrados em pertencer que se fundou ao calor da luta contra o conformismo e que, numa arrancada de fé, hasteou aos ventos da pátria o estandarte do conservantismo doutrinário. Viram os nossos fundadores, antes de qualquer outro grupo neste país, que as hostes infernais estabeleciam bases no seio das igrejas evangélicas brasileiras, para daí partirem para a exacerbação dos dias atuais. Em uma concomitância, só explicável pela ação simultânea do Espírito Santo em corações regenerados, surgiram por todo o mundo, ao mesmo tempo que se arregimentavam pelos mesmos motivos e com os mesmos propósitos. Daí a sábia resolução de nossa igreja, em 13 de março de 1948, de credenciar um representante seu para tomar assento em Amsterdam, Holanda, entre os que fundaram o Concílio Internacional de Igrejas Cristãs. A pequenina igreja, nascida a 11 de fevereiro de 1940, com apenas 67 membros, projetava-se então no cenário internacional, integrando-se no Exército de Jeová, contra os “amalequitas” da hora presente. Louvado seja Deus.

Importa, para que um real cuidado se exerça sobre nossa vida íntima, que permaneçamos em constante comunhão com Deus. Essa comunhão será o resultado da leitura cuidadosa e cotidiana das Escrituras Sagradas, da meditação sobre o seu ensino, e de nossa entrega irrestrita à operação do Espírito Santo por meio de constantes ações de graça, confissões e súplicas. Somente com as nossas almas enriquecidas de contínuo com as energias provindas da obra santificadora do Espírito Divino é que poderemos estar preparados para enfrentar e vencer os assaltos do Adversário aos nossos corações. Essa operação torna-se efetiva mediante a leitura da Bíblia, que é a espada do Espírito, e da oração, que favorece a receptividade da alma aos apelos da Graça e aos ditames da autoridade divina. Importa, ainda, por meio do culto doméstico, que não deve ser negligenciado, transmitir aos nossos filhos a herança preciosa desses valores inexcedíveis, em obediência ao que nos ensinam as Escrituras (Dt 11.19; 31.13). Bem sabe o Adversário o valor fundamental das Escrituras Sagradas na preparação e preservação dos filhos de Deus nas pugnas da fé. É por isso que a Bíblia tem sido desde priscas eras, e na atualidade, o alvo particularmente escolhido para os seus ataques, mais violentos no passado e mais sutis no presente, mas sempre desfechados com a intenção de destruir a fonte inexaurível de suprimentos para o glorioso exército dos filhos de Deus. O Adversário varia a tática, mas nunca as intenções.

Assim preparado individualmente, entre cada um para o esforço coletivo de sua igreja local ou congregação, no firme propósito de contribuir com a sua parcela para as vitórias de nossa amada igreja e, por meio desta, para as vitórias de Cristo, sobre as hostes destruidoras de Satanás.

Antes de tudo e acima de tudo, realizem as igrejas locais ou congregações, sem desfalecimento, a obra de evangelização. Para fazê-la cessar, em nossa pátria e em todo o mundo, é que Satanás tem se servido das forças ao seu alcance – a Igreja Católica Romana e o protestantismo espúrio – para criar e desenvolver esses movimentos de dessoração moral e doutrinária, a que eles chamam ecumenismo. Procurem nossas igrejas e congregações conquistar incessantemente almas para Cristo e assim enriquecer sua grei com valores novos, que assegurem estabilidade e sucessivas vitórias através dos tempos e das gerações. A Igreja de Cristo, ainda quando representada pelo mais pequenino grupo de crentes isolado no mais ínvio sertão, é sempre caracterizada pelo mais intenso dinamismo. Igrejas ou congregações estagnadas, que não se projetam no meio em que se situam, através de esforço evangelizador entusiasta, extenso e constante, estão falhando tragicamente no cumprimento de sua missão, pois estão fugindo à luta contra Satanás e, portanto, sendo vencidas por ele.

Mas a obra da evangelização, que é, sem dúvida, o aspecto mais dinâmico da missão da Igreja de Cristo, não constitui, só por si, a missão dessa Igreja. O ensino e a edificação dos filhos de Deus são partes inerentes da missão da Igreja. Para que tais objetivos fossem ou sejam alcançados, o próprio Senhor Jesus, no passado como no presente escolheu e escolhe, dentre os elementos de Sal grei, aqueles que como representantes da própria igreja, deverão exercer a docência e a administração dos bens espirituais e temporais. (Ef 4.10-12). Não acreditamos em sucessão apostólica, mas cremos firmemente que o Senhor Jesus escolhe e coloca à frente de seus remidos aqueles que deverão ser seus presbíteros e pastores. Cremos que o Espírito Santo, agindo no coração de cada um daqueles que foram postos sob seus cuidados pelo Senhor Jesus, preside a escolha dos que hão de exercer a função auxiliar do diaconato e a direção de todas as agências de atividade no seio da igreja.

Importa, pois, que haja respeito integral pelas resoluções conciliares, respeito pelos pastores, presbíteros, solidariedade com os diáconos na realização da sublime atividade para que foram chamados, sendo de responsabilidade dentro das organizações internas, cordialidade e compreensão entre todos. Em ambiente de anarquia e desordem jamais poderá ser realizada a obra indispensável de ensino e edificação no seio das igrejas e congregações. Para permanecerem na altura de sua honrosa posição e merecerem o acatamento de suas ovelhas, estejam os pastores atentos à obra docente, seja na cuidadosa preparação de seus sermões, seja dando ênfase ao ensino doutrinário, seja respeitando o próprio púlpito, não fazendo dele um órgão para vazão de ressentimentos pessoais e nem tribuna para a defesa de quaisquer interesses que não sejam os do Reino de Deus. Para a preservação de sua autoridade, estejam os presbíteros sempre atentos dos seus deveres, ao lado de seus pastores, cooperando com eles na edificação espiritual do rebanho, e substituindo-os com dedicação e dignidade.

Não há dúvida alguma de que falsos mestres, ao serviço do Adversário, tolerados em púlpitos evangélicos, em cátedras de seminários e nas colunas de jornais editados por igrejas evangélicas, penetram irremediavelmente no seio das igrejas e dos lares conservadores, se não pessoalmente, pelo menos com seus escritos e influências. É mister, pois, trazer as igrejas alertadas constantemente quanto aos problemas do modernismo teológico e do ecumenismo, e preparados para enfrentá-los e vencê-los galhardamente, como convém a bons conservadores. Nessa mesma linha de comportamento, devemos oferecer oportunidade em nossas igrejas e congregações a todos quantos puderem cooperar conosco em manter o nosso povo informado e preparado para defender-se contra essas correntes insidiosas.

A Escola Dominical que deve ser considerada a própria igreja em função de aprendizado, deve merecer o maior cuidado de todos os pastores e presbíteros, e deve se freqüentada assiduamente por todos os crentes e seus filhinhos, desde a mais tenra idade. Nela encontrarão os pais uma cooperação eficaz para a educação religiosa de seus filhos, e a igreja um excelente campo de atividade missionária. Não se descuidem os Conselhos da necessária vigilância quanto à sua administração e, notadamente, quanto à natureza do ensino que estiver sendo ministrado. Por meio de revistas para a Escola Dominical penetram fundo no seio de nossa mocidade evangélica o chamado Evangelho Social, o indiferentismo ou relativismo doutrinário e o falso ecumenismo. Todo o cuidado é pouco na escolha da literatura e dos elementos docentes para a Escola Dominical. Ela será sempre uma bênção, como tem sido através dos séculos, para a edificação do povo de Deus, se cercada de todos os cuidados. E será uma porta para a penetração de idéias dissolventes, se tais cuidados não existirem.

A responsabilidade assumida pela Igreja Presbiteriana Conservadora, em face de sua atitude de protesto contra a indiferença em matéria doutrinária, indiferença que tanto favoreceu a penetração de heresias no seio das igrejas – cria ela o dever precípuo de se esmerar na educação de seus líderes, e de se preocupar com o chamado divino para o seu ministério. Assim sendo, deve, as igrejas e congregações, atendendo ao apelo do Senhor da seara, rogar constantemente pela vocação de obreiros e concorrer alegre, e espontânea e abundantemente, com o seu apoio moral e com recursos financeiros, para a obra que se realiza no Seminário Presbiteriano Conservador. Para essa instituição deve ser encaminhado, sem relutância e sem pessimismo, todo o jovem que manifestar desejo de ser educado pela graça, com vistas ao Santo Ministério, desde que sobre ele não pese nota desabonadora. Sobre cada um desses jovens, no entanto, deve ser mantida constante observação por parte dos pastores e oficiais, devendo ser levado ao Conselho, a fim de ser advertido e, quando preciso, afastado do Seminário, todo aquele que dê motivo para não se acreditar em sua vocação.

Para a expansão do Reino de Deus e para a edificação de Seu povo, serve-se a Igreja de todos os meios de divulgação, notadamente a imprensa. Por esse motivo mantém a nossa denominação, como seu órgão oficial o periódico “O Presbiteriano Conservador”. Ele é o cartão de visita de nossa igreja e o paladino posto em defesa de seus ideais. Importa, pois, que suas páginas sejam usadas de tal maneira que a igreja seja dignificada e os objetivos sejam atingidos. Filho primogênito de nossa igreja, deve ele ser alvo de nossas constantes orações e todos os esforços devem ser feitos para que nunca lhe faltem os recursos necessários para uma publicação regular.

Cuidando cada igreja local ou congregação de todos esses aspectos da sua obra, deve ela ter constantemente suas vistas voltadas para os interesses gerais da federação eclesiástica a que pertence, empenhada em toda a obra que esta realize, no plano nacional, continental ou internacional, onde ela deve ocupar um lugar de honra.

Ao encerrar essas considerações que atrás ficam, temos que encarar o problema financeiro. Nosso Senhor Jesus Cristo, ao terminar o ciclo constituído pelo seu ministério terreno, e ao recolher-se à Sua glória, sagrou-nos Seus mordomos. Deixou-nos, com essa mordomia, a responsabilidade de prosseguir e intensificar tudo quanto se relacione com os interesses espirituais de Suas ovelhas e com a expansão de Seu reino. Confiou, portanto, entre nós. (Lc 19.12). Subestimar, pois, essa responsabilidade e colocar os interesses da Igreja de Cristo em subordinação aos nossos interesses pessoais e materiais é deslealdade para com o Senhor, que em nós confiou. Tudo quanto atrás foi recomendado só poderá ser feito se não faltarem recursos financeiros para o sustento de nossos obreiros, de nosso Seminário e do nosso jornal. E esse sustento só existirá de modo regular e dignificante, se no coração de cada presbiteriano conservador houver o senso de responsabilidade necessário e a consagração indispensável. O Senhor Jesus não quer as nossas esmolas. Só seremos realmente dignos da mordomia, quando reconhecermos que todos os recursos financeiros que vierem às nossas mãos a Ele pertencem, e que nós somos apenas seus administradores. Oremos incessantemente para que o Espírito Santo infunda no coração de cada um de nós a graça da liberalidade cristã e, assim, jamais faltem recursos para a manutenção e desenvolvimento da gloriosa obra que nos foi confiada neste setor da Igreja de Cristo.

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há, e se algum louvor, nisso pensai.”

“A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com vós todos. Amém.” (Fl 4.8, 23).

 

Jacarezinho, Estado do Paraná, 24 de janeiro de 1968.

 

Ass. Armando Pinto de Oliveira, (redator), Carlos Pacheco, João Alves dos Santos, Lívio Rodrigues, Raphael Camacho, Isaías Mesquita Junior, Leônidas Dias, Jeiel Couto, Antonino José da Silva, Moysés Moreira Lopes, Casimiro Coelho Bomfim, Francisco Dias Alves, Daniel Manoel, João Lima de Souza, Ricardo K. Filho, Antenor da Silva, Obed Steffen, Paulo Moreno, Isaías Cândido de Lima, Laércio Vieira de Aquino, Elias Soares da Silva, Joel Paes Cavalcanti, Galdino Mendes Machado, José Antônio Junior, Micael de Souza Lima, Paulo de Almeida.