“O Conceito de Aliança”
2 de março de 2017

Reverendo João Alves dos Santos

(reflexão sobre os 60 anos da IPCB comemorados em 2000)

Sessenta anos após a organização da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil, é oportuno refletir sobre alguns dos ideais de seus fundadores e de como esses foram ou não atingidos até o presente. Consideraremos primeiro os ideais que foram totalmente alcançados, depois alguns que foram parcialmente alcançados e, finalmente, aquilo que não foi alcançado. Para isso nos serviremos, como fonte, dos documentos dos primeiros anos, dentre os quais destacamos: 1) O Manifesto da Igreja Presbiteriana Conservadora de São Paulo às Igrejas Evangélicas do Brasil, de 18 de fevereiro de 1940 (publicado em O Presbiteriano Conservador, ano I, n.º 1, de 28 de março de 1940), em que ela explica as razões de seu desligamento, como 2ª Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, da sua federação eclesiástica e apresenta a sua posição e propósitos perante o Protestantismo nacional; 2) A Pastoral do 1º Presbitério da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil (publicada em O Presbiteriano Conservador, ano I, n.º 5, de julho de 1940), que se deu de 27 a 30 de junho de 1940 e no qual foi organizada a nossa denominação; 3) O sermão pregado no culto de abertura desse presbitério pelo Rev. Bento Ferraz (publicado em O Presbiteriano Conservador, no mesmo número do documento anterior) e 4) A Pastoral do 2º Presbitério (publicada em O Presbiteriano Conservador, ano II, nºs 4-5, de junho e julho de 1941), que se reuniu de 27 a 29 de junho do ano seguinte (1941). Nesses documentos encontramos expressos alguns dos objetivos e propósitos dos primeiros presbiterianos conservadores, que servirão de medida para avaliarmos se eles foram ou não atingidos.
Começaremos com aqueles que julgamos terem sido, nesses 60 anos, integralmente alcançados:

  1. Apego à doutrina

            No Manifesto de 1940 lemos: Esta nova Igreja é, sem dúvida, o fruto de um acendrado apego à doutrina. Não seguimos o formalismo religioso que orienta a personalidade para simples aceitação intelectual de determinadas verdades que permanecem, todavia, estéreis e improdutivas. Longe disso, reconhecemos a exata posição do dogma na vida religiosa e a imprescindível necessidade da defesa da doutrina como uma das condições essenciais para o estabelecimento daquela vida. Este é o real ensino de Cristo.

             Assim sendo, queremos que a nossa posição no seio do Evangelismo Nacional se caracterize por uma atitude construtiva e de defesa aos princípios fundamentais do Cristianismo, tais como entendem a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster (tradução brasileira).

             Pregando ardorosamente o Evangelho de Cristo aos pecadores, como sendo este Evangelho (a doutrina) o único meio de conduzir os homens a Cristo – o Salvador, cerraremos fileiras em torno da ortodoxia e montaremos guarda, sempre alerta, à sua conservação integral. Por isso, queremos ser chamados presbiterianos conservadores (O Presbiteriano Conservador, de 28 de março de 1940, p. 2)

              A doutrina não é a razão da existência da Igreja Conservadora como Igreja de Cristo, mas é a razão de sua existência como denominação. Como Igreja de Cristo nossa razão de existir é ser agência do Reino de Deus na terra. A doutrina é apenas um meio para vivermos e pregarmos corretamente o Evangelho de Cristo, como o sal da terra e a luz do mundo. A Igreja pode ter doutrina e ainda não ter vida. A doutrina, em si, não é suficiente. Pode ser apenas formal e estéril. Mas ela é necessária para uma vida cristã genuína e uma pregação fiel do Evangelho. Para que pudessem continuar tendo vida cristã genuína e pregação fiel, nossos líderes do passado entenderam que precisavam ser conservadores. Daí, o nome que adotaram. Apego à doutrina foi a bandeira da Igreja, como denominação.

          A Igreja mantém essa posição rigorosamente, até hoje. O item 3 da Introdução Geral da Constituição e Ordem de 1940 continua intacto: “A Igreja tem como princípio denominacional o reconhecimento de que a adoção rigorosa e a defesa intransigente das doutrinas reveladas nas Santas Escrituras, e sistematizadas nos Símbolos de Fé por ela aceitos, constituem a base fundamental de toda a vida cristã, o motivo único e permanente de sua pregação e o caminho natural de conduzir o homem à salvação em Cristo. É, pois, uma igreja rigorosamente ortodoxa…”. Este tem sido o segredo de sua estabilidade e unidade. É ainda a bandeira que a caracteriza. Mudá-la seria desfazer-se, conforme estabeleceu em sua própria Constituição e Ordem, no art. 213 (atual 239) – A Constituição e Ordem (…) só poderá ser reformada (…) na sua parte fundamental, isto é, na Introdução Geral, apenas na forma, porque qualquer alteração na essência implicará na dissolução automática da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil. A Introdução Geral é a parte que trata da posição doutrinária da Igreja. É norma pétrea. Quem quiser pertencer a ela terá que aceitar o que ela aceita, crer no que ela crê. Doutra forma, faz bem em retirar-se ou nunca a ela filiar-se.

             A Pastoral do 1º Presbitério, quando se refere à Confissão de Fé e aos Catecismos de Westminster como os padrões doutrinários da Igreja, e ao seu “livre exame”, diz: Se o “livre exame”, que é a seiva do protestantismo, opuser dúvidas à intangibilidade dessas conclusões que a Igreja Conservadora adota e propaga, o exercício dessa mesma sagrada prerrogativa individual deve mover uma única atitude na consciência de cada um: deixar pronta, livre e espontaneamente a denominação eclesiástica, de cujos princípios dissentiu. É gesto de comezinha honestidade. Um compromisso assumido é sagrado. Vale mais do que a vida. Quem se filia, por vontade própria, a uma igreja, se submete a todos os seus preceitos. Quando não puder mais fazê-lo porque o “livre exame” lhe deu outras luzes, despede-se em paz”. Esse mesmo documento afirma: “A Igreja Presbiteriana Conservadora tem alguma coisa própria, específica a realizar, no seio do evangelismo nacional. E há de fazê-lo, com o máximo rigor, sejam muitos ou poucos os seus membros, muitas ou poucas as suas igrejas locais. Se precisar, para viver, de afrouxar doutrinas, de suplicar lamurienta que os crentes permaneçam em sua grei, ou de tolerar dúvidas e titubeações, abrirá mão da própria existência e enrolará a bandeira que ora tremula, vencedora, no alto dos seus torreões de ideal e fé!” (O Presbiteriano Conservador, julho de 1940, p. 2).
É preciso crescer e a Igreja quer crescer. Mas sem abrir mão da razão para a qual surgiu no cenário evangélico nacional.

  1. Posição antimaçônica

             O Manifesto de 1940 proclamava: O movimento antimaçônico de 1903, quer nos seus pródromos, quer no testemunho ardoroso da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil nos seus primeiros tempos, conseguiu plasmar, neste País, uma mentalidade bem definida a esse respeito, sendo raro encontrar-se, hoje em dia, em nossa Pátria, um cristão evangélico que não reconheça a incompatibilidade entre a Maçonaria e o Evangelho.

            Não alcançou ele, todavia, o objetivo que havia imediatamente desejado: o reconhecimento oficial dessa incompatibilidade por parte das demais igrejas em cujo seio foi a questão largamente debatida…

            Queremos, no entanto, fixar aqui a nossa atitude em face ao problema. Esta Igreja vai ser, fora da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, a primeira a adotar oficialmente o antimaçonismo, aceitando na íntegra, sobre a matéria, as conclusões de Eduardo Carlos Pereira no seu livro “A Maçonaria e a Igreja Cristã”.

           O antimaçonismo é, para esta igreja, questão de ortodoxia. Não reconheceremos como ortodoxo alguém que, dizendo-se crente, seja, ao mesmo tempo, maçom, esoterista ou teosofista, e por isso, e só por isso, não o receberemos como membro desta Igreja, quer venha ele do mundo, quer de outra igreja onde o assunto não tiver sido ventilado.
Esta posição nunca foi mudada. A Igreja continua antimaçônica. Mantém ainda em sua Constituição o mesmo texto de 1940, no item 3 de sua Introdução Geral: É, pois, uma igreja rigorosamente ortodoxa; e, por força disto, declara incompatível com a profissão de fé evangélica a aceitação de qualquer sistema filosófico ou religioso que pretenda atingir os mesmos objetivos do Cristianismo por outros meios que não sejam apenas os estabelecidos pela Palavra de Deus. Dentre os sistemas filosóficos condenados pela Igreja destaca-se a Maçonaria, a cujas organizações não devem pertencer os seus membros. Ainda que seja um exemplo de casuísmo, o único em nossa Constituição e Ordem, em que o nome de uma organização é citado dentro do quadro geral daquelas que a Igreja declara incompatíveis com a fé evangélica, ele continua lá, para maior clareza e para não deixar dúvidas sobre a posição atual da Igreja. Ele pertence àquela parte da Constituição que não pode ser mudada sem que a Igreja se descaracterize. É texto pétreo também.

  1. Firmeza, mas sem sectarismo

            O Manifesto de 1940 declarava: Não inclui, a denominação que escolhemos para caracterizar a nossa humilde Igreja, a idéia de que os demais ramos do protestantismo, que dignamente militam em nossa Pátria, não defendam, com firmeza, a integridade do dogma. Essa denominação tem o objetivo de afirmar a nossa origem histórica; afirmar que nascemos de um movimento de defesa à ortodoxia. É, além disso, a condensação de um programa que nos impusemos. É, mais ainda, o levantamento de uma mística em torno da qual queremos formar a alma coletiva deste pujilo de idealistas que pretendem ocupar um lugar no grande exército de Cristo. É assim que queremos ser compreendidos. Tudo faremos para merecer essa compreensão…

            Ser separado não significa ser sectário. A Igreja Conservadora não se considera o único ramo legítimo da Igreja de Cristo e não quer viver isolada das demais igrejas legítimas. Ela tanto empresta cooperação a outras dessas igrejas como recebe. Tem ajudado outras denominações no preparo de seus ministros, como também tem sido ajudada no preparo dos seus próprios. Usa material didático e evangelístico de outros grupos irmãos, que considere adequados. Entende e pratica a idéia de que somos um só corpo em Cristo, ainda que separados organizacionalmente. Quando os missionários americanos da Junta Independente de Missões Presbiterianas Estrangeiras, que com ela cooperaram diretamente de 1954 a 1962, quiseram levá-la a praticar um separatismo que julgou antibíblico e inaceitável, deixou clara a eles sua posição, ainda que isso, em parte, lhe tenha custado a perda dessa cooperação.

            Ramos legítimos da Igreja de Cristo a Igreja Conservadora definiu, desde a sua fundação, como sendo “todas as comunhões que mantêm, em seus símbolos doutrinais, dogmas expressos estabelecendo o seguinte: a aceitação do Credo Apostólico; a Inspiração da Bíblia na sua integridade como única regra de fé e prática; a Divindade de Jesus; a Salvação só por Cristo; a Imortalidade da Alma; o Castigo Eterno dos ímpios; e, além desses princípios doutrinários, a celebração permanente das ordenanças cristãs e um padrão moral de vida aferido pelos ensinamentos da Bíblia” (Constituição e Ordem de 1940). Mais tarde, em 1991, substituiu esta última parte pelo seguinte texto: “e, além desses princípios doutrinários, a pregação fiel da Palavra de Deus, a celebração permanente das ordenanças cristãs e um padrão de vida moral mantido pelo exercício da disciplina bíblica” (Constituição e Ordem de 1991), tornando a definição mais clara e mais completa.

  1. Crescimento, mas sem proselitismo

            O Manifesto de 1940 ressaltava: Não é nosso propósito provocar adesões. Nossa aspiração limita-se a encontrar, para nós, um lugar em que possamos ser úteis à causa de Cristo no Brasil, sem sacrifício de nossa tranqüilidade espiritual e sem transigir quanto aos princípios que norteiam nossa posição doutrinária. Nosso número é limitado. Contentar-nos-emos, apesar disso, com o crescimento paulatino que corresponder aos frutos da nossa pregação.

            Se for do agrado do nosso Pai Celestial que assim fiquemos, limitados ao nosso número atual e à modéstia dos nossos recursos de toda ordem, assim ficaremos felizes e tranquilos, aguardando o raiar do “Novo Dia”.

            Se, porém, adesões aparecerem de pessoas sinceramente desejosas de caminhar conosco nesta jornada, nós as receberemos jubilosos e incluiremos os novos companheiros no rol desta Igreja local, até que o número e a natureza das adesões autorizem a criação do Presbitério Conservador.

            A Pastoral do 1º Presbitério exortava: A vossa atividade, irmãos queridos, deve caracterizar-se por um vivo espírito missionário. A Igreja Conservadora quer ser pujante e forte, nos alicerces de sua ortodoxia inabalável. Para esse “desideratum” ser atingido, fugi do mal do proselitismo. Crescer pela admissão de membros de outras denominações, obtidos pela propaganda de nossos princípios, não satisfaz inteiramente… A Igreja Conservadora surgiu para ser uma igreja viva. Para isso, são necessárias conversões de elementos estranhos aos meios evangélicos, tocados pela graça de Deus, mediante a instrumentalidade do trabalho missionário.

            A Igreja continua com o propósito de crescer pelo seu próprio trabalho evangelístico, não por adesões. Chega mesmo a desestimular adesões que possam, eventualmente, prejudicar a sua unidade e estabilidade denominacional. A Constituição e Ordem de 1940 estabelecia, no seu Art. 20, § 3º: A jurisdição sobre membros que vierem de outras corporações eclesiásticas reconhecidas, munidos ou não de cartas demissórias, só será assumida mediante declaração expressa, perante o Conselho, de que aceitam com firmeza os princípios denominacionais desta Igreja. Essas pessoas deverão ser interpeladas, de preferência, sobre as doutrinas que divergem desta Igreja as corporações de que provêm. Este dispositivo continua intacto, desde então.

            Para a aceitação de ministros, vindos de outras denominações reconhecidas, a Constituição de 1940 determinava: Art. 41 – Quando o Presbitério admitir ministros que venham de outras comunhões eclesiásticas, deverá examiná-los sobre sua vocação ministerial, opiniões teológicas, governo e disciplina da Igreja, e fará com que respondam pela afirmativa às perguntas que se fazem aos ordenandos.

            Esta exigência não só foi mantida como ampliada. A Constituição de 1981 acrescentou a este texto o seguinte adendo: e que assinem o termo de compromisso de que trata o § 3º do artigo 39 (atual 40). Este termo de compromisso é o que todo ministro da Igreja assina, desde a sua fundação, quando é investido no cargo, e que tem o seguinte teor: “Eu, …, ao ser investido nas funções de Ministro do Evangelho, ao serviço deste Presbitério, declaro solenemente, diante de Deus e deste concílio, que, se, no exercício dessas funções, vier a ter dúvida quanto à inspiração da Bíblia na sua integridade e aos Símbolos de Doutrina desta Igreja, ou aos seus princípios e práticas, os quais firmemente aceito e prometo divulgar e defender (Introdução Geral, incisos 2 e 3; e Título I, Preliminares, Art. 6º), deixarei espontaneamente todos os cargos que estiver ocupando, sejam de eleição, sejam de nomeação, e renunciarei às funções ministeriais no seio desta Comunidade. Os próprios ministros fundadores o assinaram. Os presbíteros também assinam um compromisso semelhante. E a Constituição de 1991 adicionou ao artigo um parágrafo tornando ainda mais criteriosa a aceitação de ministros vindos de outras denominações, que é o seguinte: Nenhum ministro poderá ser recebido nas condições deste artigo sem que preencha as exigências acadêmicas  requeridas no artigo 61, alíneas “b” e “d” e seus §§ 1º e 2º, e sem que antes seja também examinado pela Congregação de Professores do Seminário Presbiteriano Conservador, aqui constituída, para esse fim, como Junta de Exame Teológico.

            A razão de todo esse cuidado é exatamente a manutenção dos propósitos e ideais que ensejaram a fundação da Igreja. Todos os que crêem assim e estão prontos a assinar este compromisso são bem-vindos, se assim o desejarem. Mas só esses.

  1. Zelo na admissão de membros

            A Pastoral do 1º Presbitério advertia: Os membros fundadores da Igreja Presbiteriana Conservadora de São Paulo, sem discrepância de um só, sempre entenderam que o respeito à ortodoxia que defenderam com valor e veemência, obriga a todos, ministros, oficiais e crentes, desde o maior até o menor. Nessa unânime convicção, deram o passo decisivo de 11 de fevereiro, data memorável em nosso arraial, no que foram secundados, imediatamente, por outras igrejas. E assim se mantiveram até hoje. Por isso, reveste-se de particular cuidado a admissão de novos membros à igreja, submetendo-se a rigorosa indagação a respeito do que pensam sobre os dogmas seculares que a Confissão de Fé Presbiteriana encerra. Essa igreja faz questão de esclarecido entendimento e de firmeza nos seus componentes – de qualidade, pois, e não de quantidade.

            O Presbitério ratificou inteiramente essa norma de conduta e a tomou como sua, arvorando-a em lei. Exorta-vos, pois, a que vos mantenhais todos nesse diapasão. Crescei, se possível, em número: o reino de Deus deve estender-se por toda a terra e concorrer para isso, é vossa incumbência e privilégio. Mas, crescei aferrados à rijeza dos propósitos que deram origem à nova denominação eclesiástica…

            Esse cuidado levou a Igreja a inserir no texto constitucional as exigências para aceitação de membros vindos de outras comunhões eclesiásticas, já mencionados no item anterior, assim como a estabelecer o seguinte: Só serão admitidas à profissão de fé as pessoas que, submetidas a rigoroso exame por parte do Conselho, demonstrarem estar suficientemente esclarecidas sobre todas as doutrinas bíblicas, de acordo com o que sustentam os Símbolos de Westminster, conforme o exarado no inciso 3 da Introdução Geral e artigo 6 dos Preliminares do Título I, e, assim esclarecidas, declararem que aceitam com firmeza todos esses princípios e doutrinas (Art. 20, parágrafo 1º, da Constituição de 1940).

             A Constituição de 1991, sem diminuir a ênfase no cuidado da doutrinação dos novos membros, entendeu que tais exigências eram demasiadas para o ato da profissão de fé. Demandariam um longo período de preparação, no qual privariam o novo convertido das bênçãos da comunhão da Igreja e dos seus privilégios. Resumiu, então, a um mínimo necessário essas exigências, mas um mínimo que não dispensa o conhecimento da posição doutrinária da Igreja. Diz o novo texto: “Serão admitidas à profissão de fé as pessoas que, submetidas a exame por parte do Conselho, demonstrarem estar suficientemente esclarecidas sobre as doutrinas básicas da salvação, de acordo com o que sustentam os Símbolos de Westminster, conforme o exarado no inciso 3 da Introdução Geral e artigo 6 dos Preliminares do Título I, e, assim esclarecidas, declararem que aceitam com firmeza todos esses princípios e doutrinas.

            Devido à grande dificuldade em se conhecer a posição doutrinária dos diversos ramos pentecostais em nossa pátria, assim como os verdadeiros motivos e razões que deram e ainda continuam dando origem a cada um deles, o Presbitério Conservador, algum tempo depois de sua organização, decidiu também que não devem ser admitidos membros advindos desses ramos sem um novo batismo e profissão de fé. Isto não apenas por causa dos seus desvios doutrinários e generalizada falta de aplicação da disciplina (uma das marcas da Igreja), mas principalmente por não reconhecer nesses ramos, pela razão e modo como se originam, legitimidade eclesiástica. Não se trata, portanto, no entender da Igreja, de um novo batismo, uma vez que o primeiro não foi aplicado por ramo reconhecidamente legítimo da Igreja de Cristo. Esta posição tem sido vista como antipática e até como anticristã, por alguns, mas foi tomada e é mantida em respeito às convicções doutrinárias que a Igreja tem. Não se trata de julgar se membros de ramos pentecostais são ou não convertidos, se são ou não parte do corpo espiritual de Cristo, a Igreja Invisível. Certamente que todos aqueles que lá estão e que foram regenerados pelo Espírito são nossos irmãos e pertencem à verdadeira Igreja. A questão é apenas de legitimidade eclesiástica. Mas não deixa de ser importante para a Igreja, como organização visível.

            Esses são alguns dos ideais que julgamos totalmente alcançados, ao longo dessas seis décadas. A seguir, apresentaremos alguns que, ao nosso ver, têm sido alcançados, mas não de modo totalmente satisfatório.

  1. Esforço missionário

            Já citamos anteriormente parte da Pastoral do 1º Presbitério em que se recomendava: A vossa atividade, irmãos queridos, deve caracterizar-se, por um vivo espírito missionário. A Igreja Conservadora quer ser pujante e forte, nos alicerces de sua ortodoxia inabalável. para esse desideratum ser atingido, fugi ao mal do proselitismo. Crescer pela admissão de membros de outras denominações, obtidos pela propaganda dos nossos princípios não satisfaz inteiramente. É o que em História Natural se chama de crescimento por aposição, de fora para dentro. O que deveis esperar é o crescimento de dentro para fora, ou seja, por intussuscepção. Este é dos seres vivos, enquanto que aquele é dos minerais. A Igreja Conservadora surgiu para ser uma igreja viva. Para isso, são necessárias conversões de elementos estranhos ao meio evangélico, tocados pela graça de Deus, mediante a instrumentalidade do trabalho missionário. Cada membro da igreja, do maior ao menor, tem seu talento a movimentar. Forçoso é, pois, que não fique escondido, mas seja acionado por uma atividade incansável. Que honra indizível, para as criaturas serem cooperadoras de Deus na obra de achar os escolhidos, dispersos no tempo e no espaço, para se incorporarem à Igreja de Cristo!

            Ouve-se em nossos arraiais que nossos fundadores não tinham visão missionária e, por isso, a Igreja não cresceu. Preocuparam-se só com a doutrina, não com o crescimento da Igreja. Nada mais injusto. Já no 1º Presbitério foi nomeado um missionário presbiterial, mas, dada a falta de obreiros e a necessidade de consolidar as igrejas que estavam aderindo ao movimento, seu trabalho ficou praticamente restrito à visitação dos campos. Na pastoral do 2º Presbitério lemos: “Durante o nosso primeiro ano eclesiástico tivemos de atender aos apelos que nos chegaram de várias direções. Esse fato, que nos proporcionou, louvado seja Deus, rápida e apreciável expansão, impossibilitou o nosso missionário de realizar a obra evangelizadora que lhe está, especificamente, atribuída. É mister que, neste novo ano, passado o período inicial das mutações; bem definidas as atitudes e posições das comunidades locais, natural e inevitavelmente atingidas pelos acontecimentos que deram causa à nossa existência, libertados, portanto, deste processo quase compulsório de crescimento por aposição, entreguemo-nos, de corpo e alma, à obra missionária. A nossa Igreja não quer crescer por força da adesão de entidades pertencentes a outras denominações. Aspiramos uma expansão que seja o fruto de nosso próprio trabalho evangelizador. Que congregações locais ou presbiteriais se convertam em igrejas; que se crie um campo missionário extenso, constituído de localidades onde não existam igrejas evangélicas; que o missionário presbiterial seja insistentemente convidado pelos pastores ou conselhos para a realização de campanhas de evangelização em suas igrejas; eis o que desejamos, e só o que desejamos seja feito no sentido do nosso crescimento” (O Presbiteriano Conservador, junho e julho de 1941, p. 2).

            A figura e função desse missionário presbiterial está descrita no art. 56 da C.O. de 1940: “O Presbitério nomeará, entre os seus ministros, um funcionário que terá o nome de Missionário Presbiterial, a quem incumbe representá-lo junto às igrejas locais, promovendo a unidade da igreja, intensificando no seio de cada uma delas o interesse pela obra geral da federação, nomeando, instruindo e auxiliando os agentes locais do Órgão Oficial e realizando tudo o mais que lhe seja distribuído pelo Presbitério e, nos interregnos, pela Comissão Executiva. A esse funcionário compete, de maneira especial, assumir o pastorado de igrejas vagas e realizar obra nitidamente missionária, com a criação de novos núcleos de trabalho de evangelização, particularmente nas localidades, dentro do campo presbiterial, onde não houver nenhuma igreja evangélica funcionado” (O Presbiteriano Conservador, janeiro e fevereiro de 1943, p. 3). Talvez tenha sido muita atribuição para um obreiro só, principalmente porque ele não dispunha de tempo integral para o trabalho. Pode-se questionar a metodologia, não o idealismo.

            Embora tendo esse ideal, por razões várias, só em 1983 a Igreja veio a criar o seu Departamento Missionário, 43 anos depois de sua fundação. Esse departamento muito tem contribuído para a expansão da Igreja, atualmente. Neste ponto, por dificuldades diversas, como as encontradas nos primeiros anos, mas também por falta de planejamento e até mesmo de empenho, a Igreja demorou para responder a esse ideal de seus fundadores. As igrejas, na sua grande maioria, por serem pequenas, acomodaram-se às suas próprias necessidades e objetivos locais, descuidando-se da obra de expansão. Quando houve crescimento, este foi apenas em nível local, com a formação de congregações e pontos de pregação, o que é altamente louvável, mas não é toda a obra da Igreja. Até hoje não falta quem ainda esteja comprometido apenas com a obra local de sua igreja, sem envolver-se com missões fora dos limites de sua “paróquia”; ministros, inclusive.

  1. Preparação cuidadosa do ministério

            No seu Sermão do Culto de Abertura do 1º Presbitério, o Rev. Bento Ferraz ponderava: Mais uma vez se repete, conosco, mui particularmente, o quadro que angustiou o coração do Mestre, quando viveu aqui na terra… Apliquemos à crise, que ora nos esmaga e aflige, o remédio, que é divino, e foi receitado pelo Mestre Divino: “Rogai ao Senhor da seara, que mande obreiros à Sua seara”. A nós, rogar; ao Senhor, mandar; e a nós ainda, está subentendido, e é nosso imenso privilégio, preparar, receber e sustentar os obreiros enviados pelo Senhor da seara, que é o mundo, ou a parte dele onde laboramos. Diga-se, todavia: antes sem ministério do que servido por ministério inidôneo. Mas a igreja não poderá, salvo em casos excepcionais, viver e progredir sem esse ministério idôneo. Cogitar de vocações ministeriais ou de seminário ou de preparação ministerial, são coisas que devem entrar desde já em nossos planos eclesiásticos. Orar e agir nesta linha é construir alicerces para o grande edifício que vamos ou pretendemos levantar, com a graça de Deus, no seio do evangelismo brasileiro.

            Em 1953 foi oficialmente criado o Seminário, que veio a funcionar só em 1954, 14 anos depois de organizada a denominação. A falta de ministros prejudicou o crescimento e a expansão da Igreja. Ela teve que manter-se, na sua maior parte, pelo trabalho dos presbíteros e outros líderes leigos. Mesmo a qualidade de doutrinação dada pelo Seminário nos seus primeiros anos não foi a mais desejável. O Seminário precisou contar com a colaboração (gratuita) de professores metodistas, congregacionais e de outras linhas teológicas, que não passaram uma formação reformada, calvinista, aos alunos. Mesmo os missionários americanos, que eram da Igreja Presbiteriana Bíblica, não deram ênfase nas doutrinas reformadas. A ênfase dada era muito mais na distinção entre fundamentalismo e modernismo do que nas doutrinas que caracterizam o Presbiterianismo. Isso acarretou alguns problemas quanto à homogeneidade de convicções doutrinárias. Não podemos deixar de reconhecer que eles prestaram um grande serviço à Igreja, quando ela ainda não tinha os seus próprios mestres. Sua colaboração foi imprescindível nos primeiros anos do Seminário. Mas também temos que admitir que a Igreja foi, desta forma, muito influenciada por professores e pregadores arminianos, dispensacionalistas, e de outras convicções, que nela deixaram suas marcas.

            Hoje vivemos, certamente, o momento em que mais ênfase é dada nas doutrinas da Fé Reformada, tanto no Seminário como em nossos púlpitos. E não deixa de ser este um dado positivo e animador.

  1. Senso de unidade denominacional

            Na Pastoral do 2º Presbitério (redigida pelo Rev. Armando Pinto de Oliveira), lemos: Importa não perder de vista o sentido de unidade da nossa Igreja. Se nos deixarmos absorver pelos problemas locais, relegando à segunda plana os interesses da Federação, determinaremos, com essa atitude, a desagregação dos nossos esforços, consequentemente, o esfacelamento da obra geral.

            Impossível seria, dessa forma, a consecução dos altos objetivos a cuja conquista nos propusemos. Poderíamos ter igrejas locais entregues a uma atividade constante e nobre, mas essas pequenas comunidades viveriam restritas a raios de ação limitadíssimos, e, sem uma representação nacional, seriam incapazes de ocupar, nos diversos setores da obra evangélica, o lugar que pretendemos entre as irmãs que, dignamente, militam em nossa pátria.

            De resto, o futuro, a consistência, a estabilidade do trabalho local, serão decorrentes da fidelidade com que nos entregarmos à obra geral. – Onde pastores, se não houver obra educativa? Onde a possibilidade de expansão e defesa de nossas idéias, sem um órgão de imprensa? Onde o testemunho prático de solidariedade no sofrimento humano, sem instituições e fundos especializados, ou sem o nosso concurso à grandiosa obra de benemerência que vem sendo feita pelas igrejas irmãs?

            Extenso é o território da pátria; inúmeras as localidades onde nenhum trabalho missionário se faz com regularidade e perseverança. É mister que os nossos esforços de propaganda não fiquem limitados ao âmbito estreito do trabalho local, mas alcancem uma realização de grande amplitude e intensidade, na atuação constante do missionário presbiterial. Só assim daremos provas da exata compreensão do moto que escolhemos para o primeiro ano de nossa vida eclesiástica, a súplica do vidente de Pátmos: – ‘Vem Senhor Jesus!’”

            Eis o que deve mover, no seio de cada igreja local, ministros, presbíteros, diáconos e professores, homens e mulheres, jovens e crianças, a uma permanente e intensa preocupação pela obra geral da Igreja. E essa preocupação deve traduzir-se nas orações particulares, nas orações públicas e na contribuição liberal e constante para essa obra. (O Presbiteriano Conservador, Junho e Julho de 1941, p. 2)

            Por aí se percebe que a Igreja, nos seus primeiros dias, sabia que sem obra geral seria impossível o seu desenvolvimento e, até mesmo, a sua consolidação. Precisaria criar um seminário para ter um ministério formado de acordo com suas convicções; precisaria manter um jornal para ter um canal de comunicação entre as suas entidades locais e um veículo divulgador de sua causa; precisaria ter uma obra de assistência social ou, pelo menos, contribuir para aquelas já existentes, que procuram desenvolver o mistério da misericórdia; precisaria investir no trabalho de expansão missionária.
Isto foi feito até 1988 através das ofertas constitucionais, que eram levantadas entre as igrejas locais e congregações: a de 11 de Fevereiro, (chamada de Oferta de Gratidão), destinada para os fins gerais do Sínodo; a de 27 de junho, destinada para o jornal; a do 3º domingo de setembro, destinada à obra missionária; a de 15 de novembro, destinada ao Seminário e a de 25 de dezembro, destinada a alguma instituição beneficente evangélica. O sistema, todavia, mostrou-se inadequado. As ofertas eram geralmente insuficientes para atender os fins a que se destinavam. Apelos insistentes e urgentes tinham que ser feitos, constantemente, para as diversas necessidades da Igreja. O Seminário tinha que recorrer a igrejas e até a pessoas, individualmente, para que não cerrasse suas portas antes do final dos semestres letivos; o jornal fechava em déficit; não havia receita para sustento de jubilados e a obra missionária simplesmente não podia ser feita, por falta de recursos. A Igreja viveu seríssimas dificuldades de manutenção da obra geral até que, no Sínodo de 1988, se adotou o sistema de contribuição por porcentagem da arrecadação. Ainda hoje, não há prontidão e voluntariedade de todas as igrejas na contribuição para a obra geral, e mesmo com o sistema de porcentagem, há relutância e atrasos no envio dessas verbas, algumas vezes. Muitos reclamam de que ela é alta, e, de fato, é. Como ainda somos uma Igreja pequena, pouco mais de três mil membros para manter um seminário, um jornal e um departamento missionário, além da obra local e do sustento de um ministério de mais de cinqüenta ministros na ativa, não pode ser menos do que isso. Quando a Igreja crescer e quando houver mais regularidade e fidelidade no envio dessa verba, ela poderá ser menor.
Graças a Deus, porém, com este sistema, os problemas foram resolvidos satisfatoriamente. Há recursos suficientes para a manutenção de todas as agências sinodais.

  1. Cursos para oficiais

            A Pastoral do 1º Presbitério recomendava: É, pois necessário, para que uma só e completa ortodoxia seja o laço de união entre todos os membros da Igreja Presbiteriana Conservadora, que as seguintes medidas sejam adotadas:

            1) Instrução permanente, dos púlpitos e das escolas dominicais, acerca da importância estrutural da doutrina na vida religiosa, que é o princípio distintivo da Igreja Conservadora. É indispensável detida atenção ao estudo dos princípios de nossa Confissão de Fé.

2) Preparo de todos os atuais presbíteros e diáconos no sentido de poderem aceitar inteligentemente, e não apenas pró-forma, os símbolos de Westminster. Esse preparo pode ser feito por meio de cursos baseados na Confissão de Fé.

3) Formação de classes de catecúmenos em todas as igrejas, de modo a não se apresentar mais ninguém à admissão como membro sem ter passado por uma preparação doutrinária adequada.
Nesse 1º Presbitério foi aprovada uma proposta nos seguintes termos: “ que a Comissão Executiva do Presbitério solicite da Faculdade de Teologia da Igreja Cristã Presbiteriana que restaure o seu valioso curso por correspondência sobre a Confissão de Fé e os Catecismos. Assim sucedendo, todos os presbíteros e diáconos devem fazê-lo, recomendando-lhes o Concílio que adquiram a Confissão de Fé. Resolveu mais o Presbitério que a Comissão Executiva entre em entendimento com aquela Faculdade de Teologia para a realização da obra educativa dos nossos candidatos”(O Presbiteriano Conservador, julho de 1940, p. 7).

            Essa recomendação nem sempre tem sido seguida. Algumas igrejas oferecem algum treinamento e instrução para seus oficiais, mas em pequena escala, não como seria desejável. É uma tarefa que cabe aos pastores. Nossos encontros de líderes têm feito alguma coisa nesse sentido, mas ainda de modo insatisfatório, pois essa é tarefa que demanda tempo e acompanhamento. Poucos são os nossos oficiais que conhecem os elementos básicos de nossa Fé Reformada, consubstanciada na Confissão de Fé de Westminster. Falamos muito em doutrina, mas conhecemos pouco. Atualmente há cursos apostilados da Confissão de Fé, disponíveis, que podem ser feitos em casa e, bem recentemente, um comentário clássico dessa confissão (escrito por A.A. Hodge) foi publicado em português, o que pode ajudar a atingirmos esse objetivo. Os institutos bíblicos mantidos por alguns de nossos presbitérios têm prestado um relevante serviço neste sentido, dando treinamento bíblico-doutrinário a membros e oficiais de nossas igrejas. Mas esse trabalho fica restrito a umas poucas áreas onde existem os institutos e a algumas poucas pessoas que podem frequentá-los. Muito mais deve ser feito individualmente pelos ministros, nas igrejas locais, para que esse ideal seja atingido.

  1. Obra de assistência social

            Também não devemos pensar que nossos fundadores se esqueceram da obra social. No Sermão do Culto de Abertura do 1º Presbitério foi dito: Não cremos no evangelho social, mas no Evangelho de Cristo, que é o Evangelho para cada indivíduo, ou seja, para cada pecador. Mas não desconhecemos que a igreja, formada por indivíduos crentes em Cristo, tem necessidades temporais, que impõem e reclamam uma obra de beneficência em favor da velhice desamparada, da infância desvalida, dos enfermos pobres, das viúvas, dos órfãos, etc. etc. etc.
Não escape de nossas vistas cristãs esse aspecto da obra evangélica, e façamos, desde já, por ela, o que estiver ao alcance de nossa pequenez, humildade e pobreza, que Deus poderá converter nas riquezas de sua munificência infinita e divina.
Oficialmente, apenas uma coleta em favor das crianças pobres, que era levantada por ocasião das comemorações do Natal, passou a existir. A sua destinação ficava, anualmente, a critério da Comissão Executiva (artigo 126 da Constituição e Ordem de 1940, p. 4). Essa coleta passou depois, constitucionalmente, a ser destinada a alguma instituição beneficente evangélica (Constituição de 1981). Com o novo sistema de arrecadação por porcentagem, adotado no Sínodo de 1988, foram suprimidas todas as ofertas constitucionais, inclusive esta. Hoje este trabalho está inteiramente a critério das igrejas locais. Sabemos que algumas contribuem para entidades assistenciais evangélicas, mas em pequena escala. Não temos ainda condições de ter um trabalho assistencial mantido por nossos próprios recursos, é verdade. Mas também não devemos perder de vista o fato que o exercício da fé cristã inclui o ministério da misericórdia. E este objetivo já fazia parte dos ideais de 1940.

  1. Obra de educação secular – O “Instituto Eduardo Carlos Pereira”

            Apresentados os ideais que nestas seis décadas foram atingidos, no todo ou em parte, devemos, finalmente, falar de um ideal de nossos fundadores que não foi concretizado: O “Instituto Eduardo Carlos Pereira”.
Projetado pelo Dr. Flamínio Fávero e já anteriormente apresentado à Coligação Conservadora, um plano gigantesco de obra educativa visando “a educação dos filhos da igreja e a dos estranhos” foi aprovado, logo no 1º Presbitério. Seguia um ideal do Rev. Eduardo Carlos Pereira de que “os filhos da Igreja devem ser educados pela Igreja e para a Igreja”. Consistia o projeto de um instituto educacional com cinco departamentos: 1) o Departamento de Educação Intelectual, que compreenderia os cursos Ginasial (de 5 anos, com cursos anexos de comércio, taquigrafia, secretariado e de professores para a Escola Dominical); o Pré-teológico (de 2 anos) para candidatos ao ministério, e o Teológico (de 3 ou 4 anos, para formar bacharéis em teologia); 2) o Departamento de Educação Física, para ministrar aulas de ginástica; 3) o Departamento de Educação Artística, com cursos de canto, órgão, piano, etc.; 4) o Departamento de Instrução Militar, para tornar os moços quites com o serviço militar; e o 5) Departamento de Educação Profissional, com cursos de enfermagem, datilografia, cozinha, corte e costura, flores artificiais, agricultura, etc. Esses cinco departamentos seriam precedidos de dois cursos iniciais: o do Jardim da Infância e o Primário. Esse projeto está apresentado em O Presbiteriano Conservador, de julho de 1940.

            Não é preciso dizer que o projeto não foi adiante. Deus sabe por quê. Talvez, porque esta não deve ser considerada uma tarefa da Igreja, como Igreja. Nossa experiência tem demonstrado que iniciativas desse caráter são necessárias e úteis, mas devem partir do povo de Deus como comunidade civil e não como igreja. As ofertas que tinham sido levantadas para o Instituto e um terreno que havia sido doado para esse fim foram, em 1953, destinados para a construção do nosso Seminário. Não deixaram de ter uma destinação adequada, pois serviram como uma primeira base para a criação de nossa Casa de Profetas. O projeto não vingou, mas um aspecto do seu ideal, que era o da instrução teológica, foi atingido, e vem servindo como o alicerce da formação doutrinária da Igreja.

            São algumas das reflexões que podemos fazer com base nesses 60 anos de história da IPC do Brasil. Certamente devemos ser gratos pela Igreja que herdamos ou onde Deus nos colocou, na qual podemos servi-Lo com consciência tranqüila e em paz. E também ser gratos àqueles que nos legaram esta herança, cuja fé devemos imitar. E, mais do que isso, peçamos a Deus coragem e firmeza para continuar essa obra!

(Publicado em O Presbiteriano Conservador nas edições de Julho/Agosto, Setembro/Outubro e Novembro/Dezembro de 1999 e Janeiro/Fevereiro e Março/Abril de 2000)