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PASTORAL DA ASSEMBLÉIA GERAL

DA IGREJA PRESBITERIANA CONSERVADORA DO BRASIL

ÀS IGREJAS DE SUA JURISDIÇÃO

Amados irmãos!

A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam sempre convosco. II Co. 12:13

Graças ao bom Deus chegamos a primeira reunião da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil, ocasião esta propícia a agradecermos os feitos até aqui, sempre sob a boa mão do Senhor, bem como é tempo de avaliarmos nossos níveis reais de desenvolvimento, crescimento e acertarmos os rumos do nosso viver cristão denominacional a fim de enfrentarmos os novos desafios que nos estão propostos.

No próximo ano completaremos 70 anos de existência em solo pátrio, data que deve ser comemorada como marco histórico em nossa caminhada. Nos dias atuais, mais do que nunca necessitamos manter firmes os princípios bíblicos e a defesa do Evangelho. Portanto, nossa igreja tem grande tarefa a ser desenvolvida com o objetivo de manter a unidade do propósito que levou à sua formação.

O nosso compromisso com Cristo nos constrange a vivermos de modo a sermos fiéis à sua Palavra e ao seu reino, vivendo de modo digno.

 

UM VIVER DIGNO DO VOSSO CHAMADO

ROGO-VOS, POIS, EU, O PRISIONEIRO NO SENHOR, QUE ANDEIS DE MODO DIGNO DA VOCAÇÃO A QUE FOSTES CHAMADOS, COM TODA A HUMILDADE E MANSIDÃO, COM LONGANIMIDADE, SUPORTANDO-VOS UNS AOS OUTROS EM AMOR, ESFORÇANDO-VOS DILIGENTEMENTE POR PRESERVAR A UNIDADE DO ESPÍRITO NO VÍNCULO DA PAZ; HÁ SOMENTE UM CORPO E UM ESPÍRITO, COMO TAMBÉM FOSTES CHAMADOS NUMA SÓ ESPERANÇA DA VOSSA VOCAÇÃO; HÁ UM SÓ SENHOR; UMA SÓ FÉ, UM SÓ BATISMO; UM SÓ DEUS E PAI DE TODOS, O QUAL É SOBRE TODOS, AGE POR MEIO DE TODOS E ESTÁ EM TODOS.                                     EFÉSIOS 4: 1-6

 

PELO COMPROMISSO COM O SENHOR

Em Efésios 4:1 Paulo se apresenta como o “prisioneiro no Senhor”. O termo prisioneiro é usado pelo apóstolo por três vezes nesta carta, no capítulo três verso um, no texto supra citado e no capítulo seis versículo vinte.

Segundo os comentaristas e a tradição cristã o termo é uma referência à prisão domiciliar do apóstolo em Roma, registrada em Atos 28 nos anos sessenta a sessenta e dois da era cristã.

Por causa do seu compromisso com Cristo Paulo foi levado à prisão. A expressão prisioneiro tem um sentido adicional metafórico de seu aprisionamento (união) espiritual a Cristo. Segundo a tradição na prisão domiciliar o preso fica acorrentado em companhia de um soldado, isto é, algemado ao próprio soldado. Também naqueles dias a prisão poderia ser uma espécie de masmorra onde as correntes eram utilizadas como instrumento para fixar o preso ao recinto, assim a sua fuga seria impossibilitada.

Em Atos 16:24 temos a narrativa da prisão de Paulo e Silas e como estes foram postos no cárcere “Levou-os para o cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco”. Na opinião dos comentaristas o tronco era um instrumento romano de prisão e tortura formado por uma armação de madeira com uma série graduada de buracos nos quais eram colocados os pés, obrigando o preso a manter as pernas abertas e em posição de dor. Em Atos 12:6 temos “Pedro dormia entre dois soldados, acorrentado com duas cadeias, e sentinelas à porta guardando o cárcere.”.

Assim o prisioneiro de Jesus, não é só o que está preso por causa de Cristo, mas também aquele que está preso a Cristo, isto é, ligado com, por meio de correntes (metaforicamente falando) a Cristo, ou ainda a Ele sujeito. Este mesmo ensino é presente em Filemon 1:9 que diz: “…sendo o que eu sou, Paulo, o velho e, agora até prisioneiro de Cristo Jesus.” Tomando este sentido adicional (metafórico) pode-se afirmar que o servo de Cristo tem o compromisso com o seu Senhor do qual ele não pode ser liberto.

 

EM TODO SEU ANDAR

O apóstolo Paulo inicia o texto base dizendo: “Rogo-vos, pois eu, o prisioneiro do Senhor, que andeis de modo digno da vossa vocação.”. O prisioneiro no Senhor está exortando seus leitores a andar de modo digno do chamado que eles receberam da parte de Deus.

O verbo andar traz a característica da mensagem prática que tem início neste capítulo 4 e aqui é empregado para definir o curso da vida de uma pessoa (conforme 2:2 e 10). Em Gênesis, por exemplo, está escrito que Noé andou com Deus, o mesmo ocorreu com Enoque.

Andar “de modo digno da vocação a que fostes chamados” tem ainda o sentido de viver em harmonia com a vida que Deus chamou para ser vivida. O andar neste texto está ligado aos termos “modo digno”. O termo digno traz consigo a idéia de que existe um outro modo de viver que não é digno ao cristão. Deste modo digno passaria a ser um indicativo que leva-nos a pensar em avaliação do comportamento ou avaliação da caminhada cristã.

Há parâmetros para dizermos se o andar é digno ou não. Então como mantemos o chamado? Ou como vivemos a vida que Deus mandou que nós vivêssemos?

Verifica-se que o verso 2 contém a resposta: “Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando uns aos outros em amor.”. Aqui está contida uma lista com algumas qualidades que os crentes deveriam revelar em suas vidas, a mesma relação está presente em Colossenses 3:12,13.

Segundo apóstolo Paulo a virtude básica ou primária é a humildade. Ele inicia o verso de número 2 dando uma ênfase e aprofundando esta virtude cristã  com a expressão “toda humildade”.

John Stott analisando este texto diz: “Paulo emprega aqui um termo que significa humildade de mente, o reconhecimento da dignidade e do valor de outras pessoas, a mentalidade que havia em Cristo, que o levou esvaziar-se a si mesmo e tornar-se um servo.”.

Jesus além de seu exemplo deixou também o seu ensino “Bem-aventurados os humildes de espírito…”, “Aquele que se humilha como esta criança, este é o maior no reino dos céus.  Mateus 18:4” e ainda, “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado. Mateus 23:3”. Em Cristo, a humildade se tornou uma virtude.

A humildade origina-se da adequada e justa maneira de se encarar a si próprio. A idéia fundamental do texto paulino, bem como do ensino de Cristo está no reconhecimento de que a criatura depende de Deus seu criador.

O crente reconhece, humildemente, a sua pequenez e a ausência de qualquer valor e mérito diante de Deus. Francis Foulkes comentando Efésios diz: “para os gregos a humildade não era uma virtude. Para eles, como de fato para a maioria dos povos não cristãos em qualquer geração o conceito de plenitude de vida não incluía a humildade.” Então, o cristão é chamado a seguir o exemplo de seu mestre, Jesus Cristo, e imitar seus passos.

O próximo critério para a avaliação da vida cristã é a mansidão. Segundo os comentaristas mansidão é algo que deriva diretamente da humildade com uma interdependência mútua. Segundo Foulkes o termo “era usado no grego clássico no sentido de suavidade de trato ou docilidade de caráter. O adjetivo manso era empregado em especial para designar um animal submetido completamente à disciplina e controle.”. Sob este aspecto de controle, disciplina, bom trato, o significado de mansidão não é sinônimo de fraqueza ou de covardia, ao contrário, mansidão é a suavidade dos fortes e força sob controle.

Ainda, segundo Stott, mansidão: “é a qualidade de uma personalidade forte que é, mesmo assim, senhora de si mesma e serva de outras pessoas”. A meiguice, diz Stott: “é a ausência da disposição para asseverar direitos pessoais, seja na presença de Deus, seja na dos homens.”.

O próprio Senhor Jesus se descreveu como sendo “manso e humilde de coração” (Mateus 11:29). Jesus ainda nos ensina: “Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra.” (Mateus 5:5).

A próxima virtude esperada como prática da vida cristã é a longanimidade ou, como comumente se usa, um longo ânimo. A longanimidade pode indicar uma firme paciência em meio ao sofrimento, ou o não apressar-se em vingar o mal quando ferido por outrem.

Tomando como exemplo a paciência de Deus para com os homens (Romanos 2:4, 9:22) os cristãos devem ter a mesma disposição para com o seu próximo. Paulo em Gálatas 5:22 ensina que a longanimidade é uma manifestação do fruto do Espírito na vida cristã.

A longanimidade opõe-se a irascibilidade e corresponde a atitude do homem que é tardio em se irar (Tiago1:19), o qual suporta injustiça e o insulto sem retaliação.

O último critério para avaliar o viver cristão, como um modo digno de acordo como o chamado de Deus é o “suportar”.

“Suportai-vos uns aos outros em amor” Ef. 4:2

Assim como, humildade e mansidão estão intimamente relacionados, assim também estão ligados a longanimidade e o suportai-vos uns aos outros.

A primeira idéia de suportar é a tolerância com as faltas de outras pessoas, ou a paciência com a falha do outro. Neste sentido o suportar é uma virtude digna da vida cristã e uma manifestação prática da longanimidade. Num aspecto adicional suportar traz a idéia de dar o suporte quando um irmão está necessitado ou quando aquele que nos fere passa por necessidades, é dever cristão ser esteio e apoio nas horas difíceis.

Jesus nos ensina “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” Mateus 5:44. Em Atos 2:44 e 45 temos: “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos à medida que alguém tinha necessidade.”. O apoio ao necessitado é algo priorizado na prática da vida cristã primitiva e deve estar presente na pratica do povo de Deus dos nossos dias..

 

ESFORÇANDO-VOS PARA PREZERVAR A UNIDADE – VERSO 3   

A unidade da igreja, o corpo de Cristo, é a consequência do andar de modo digno. A admoestação sobre a unidade deve ser tomada como clímax da junção dos versículos 2 e 3. O viver digno de acordo com as virtudes apresentadas por Deus culmina com uma igreja unida vivendo em obediência a Cristo.

O cristão que assume um sincero compromisso com Cristo e busca viver as virtudes cristãs, toma como sua responsabilidade fazer tudo quanto estiver ao seu alcance para preservar a unidade da igreja. Para Paulo a unidade cristã é uma obra do Espírito Santo na vida da igreja. É esta a razão porque no texto a unidade é chamada de unidade do Espírito.

Dos versículos 4 a 6  o apóstolo ainda enfatiza a importância da unidade da igreja utilizando sete vezes o termo “um”. Ele fala de um Espírito, um só Senhor e um só Deus. E ainda, um só corpo, uma só esperança, uma só fé e um só batismo. O termo um é usado três vezes com referência às pessoas da trindade e quatro com relação a aspectos da salvação.

Conforme verificamos uma das figuras que o apóstolo Paulo usa para exemplificar a unidade da igreja é a perfeita unidade entre as três pessoas da trindade.

Mas o sentido primário desta passagem apresenta as sete unidades como o alicerce sobre o qual o espírito constrói uma autêntica unidade entre os remidos. Estas sete unidades dividem-se em três grupos as quais passamos a apresentar:

No verso 4 temos “somente um corpo e um espírito…uma só esperança”. Este corpo, a igreja, só possui vida pela ação única do Espírito, e toda a expectativa do corpo é uma única e viva esperança da glória de Deus.

Ainda temos no verso 5 “um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. Paulo abre esta seção apresentando o Salvador, Jesus, ligado à fé, isto é, a confiança num único Senhor, fé, o instrumento de Deus para tomarmos posse das bênçãos espirituais contidas na obra de Cristo. O relacionamento com o Senhor é selado pelo sacramento do batismo como sinal visível do compromisso cristão com o seu Senhor.

O clímax do argumento paulino e o fechamento de toda sua construção apresenta “um só Deus e Pai de todos”. Neste sentido todos somos filhos do mesmo Deus e como irmãos devemos viver fraternalmente na igreja onde Jesus é o cabeça.

Através dos argumentos acima, podemos concluir que o Trino-Deus é o único motivador da unidade da igreja.  E os verdadeiros crentes, alcançados pelo projeto salvador do Senhor, se esforçaram por preservar esta unidade.

 

CONCLUSÃO

Concluindo, estamos vivendo um momento histórico para a Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil. Este sínodo marca o fechamento de um período, que após muitas batalhas, saímos “mais do que vencedores por aquele que nos amou”. A luta ainda não acabou, necessitamos nos manter firmes como prisioneiros no Senhor, e dispostos a pagar o preço pelo nosso compromisso com Cristo. Diz o apóstolo Paulo: “sede meus imitadores como eu sou de Cristo”. Cristo foi à cruz para fazer a vontade de Deus, o referido apóstolo à prisão. Difícil será imitá-los, mas sigamos a nossa luta vivendo um real compromisso com o Senhor de nossas vidas, Jesus Cristo.

Sejamos corajosos para sustentar aquilo que sempre foi o propósito de existência da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil. Pois temos, no registro da primeira pastoral, 1940, o seguinte: “A Igreja Presbiteriana Conservadora tem alguma coisa própria, específica a realizar, no seio do evangelismo nacional. E há de fazê-lo, com o máximo rigor, sejam muitos ou poucos os seus membros, muitas ou poucas as suas igrejas locais”.

Novos tempos vislumbram o nascimento de uma assembléia geral, o desdobramento do sínodo e o nascimento de novos presbitérios, retenhamos firmes a batalha da fé que uma vez foi dada aos santos. Andando de modo digno do nosso chamado, vivendo a vida que Deus espera que nós vivamos. Esforçando-nos pela unidade do corpo de Cristo. Viver unidade e união é o propósito do Senhor para a Sua Igreja. “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! …ali, ordena o Senhor a benção e a vida para sempre” (Sl.133).

Na pastoral de 1983 temos: “Não devemos nos esquecer, todavia, de que precisamos de vigilância não só em relação à posição doutrinária, mas também quanto à unidade denominacional. Somos uma denominação regida pelos princípios do Presbiterianismo, onde impera a norma democrática de que as decisões dos concílios devem ser obedecidas por todos. Essa regra é a condição primordial para a unidade e paz da Igreja. Nossas preferências ou opiniões pessoais precisam estar subordinadas, quer como ministros, presbíteros, diáconos ou membros, aos interesses maiores e de caráter geral da denominação. Para haver crescimento harmônico e uniforme de todo o corpo eclesiástico, é mister que os interesses gerais da denominação tenham prioridade sobre os locais”.

Finalizando cito a pastoral 1965: “O grupo heróico de 1940 suportou sobre os ombros a insigne responsabilidade de manter o pendão real em pé, até agora quando os obreiros jorram em abundância como a cascata da alta serra; é preciso aproveitá-los como se faz com a água na sua força pujante, para que possamos ser úteis em todos os extremos do solo pátrio. Entremos, amados, para a fase missionária da igreja, não que ela antes não tivesse essa responsabilidade, mas agora como tendo capacidade maior para esse mister. Os bravos permaneceram firmes em seus postos, mas agora é preciso avançar para novos horizontes, já que os elementos virão com abundância”.

“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão”. (1Co 15.58). O Senhor vos abençoe e vos guarde! O Senhor vos faça frutíferos na Sua obra! Amém!

São Paulo, 15 de julho de 2009.

Edson Serafim Gonçalves